Fernanda Fernandes Borges
No dia 31 de outubro comemora-se o Dia Nacional
da Poesia. A data foi oficializada através da Lei nº 13.131 de 3 de junho de 2015 e é uma homenagem ao
aniversário de um dos maiores poetas brasileiros Carlos Drummond de Andrade.
Foto: Reprodução Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira, Minas Gerais, em 31 de outubro de 1902 |
Nos texto poéticos,
muitas vezes, há a percepção da
realidade através da imaginação e dos
sentimentos do autor e também do
leitor.
Nesse tipo de arte há
a utilização de variados recursos lingüísticos e também estéticos.
A poesia é considerada
uma das sete artes tradicionais que exprime os sentimentos mais íntimos do
poeta ou dos personagens idealizados pelo autor.
Os poemas de Drummond
, um dos maiores representantes da literatura brasileira no século XX, retratam temáticas associadas ao cotidiano, à
família, aos amigos e aos conflitos
sociais, através de uma visão crítica do
mundo e das pessoas.
Destacam-se na obra de
Carlos Drummond de Andrade os poemas: Sentimento do Mundo (1940), José (1942),
Lição de Coisas ( 1962), Corpo
(1984), Amar se Aprende Amando ( 1985),
dentre vários outros.
Leia o poema “José ’’ :
José
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
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