Fernanda Fernandes Borges
Desde o dia 12 de março deste ano, cães e gatos de
pequeno porte podem ser transportados em ônibus, na cidade de São Paulo. O
prefeito Fernando Haddad (PT) sancionou a lei municipal no último dia 11, para
atender antigas reivindicações de pessoas de baixa renda que não tinham
condições de pagar transporte particular para levar seus animais ao veterinário
e aos postos de vacinação.
As regras para que o animal seja levado nos ônibus são:
pesar até 10 Kg, ser transportado em caixas especiais de fibra de vidro ou
similar; estar vacinado e ser manso. Além disso, o dono não pode levar o bicho
em horário de picos das 6 h às 10 h e das 16 h às 19 h. A passagem no valor de
R$ 3,50, do cão ou gato deve ser paga, se o proprietário optar por levá-lo em
um assento do veículo. Caso viaje no colo, não é necessário o pagamento.
A nova lei trouxe alegria para os donos dos animais, mas
indignação de alguns usuários do transporte público. Um passageiro, indagado
por uma equipe de TV respondeu: “Agora terei que viajar em pé, para dar lugar
para um cachorro?”. A ironia foi maior por parte de outro: “Se a gata estiver grávida, o assento
preferencial será dela?”. A capital paulista tem um trânsito caótico e os
ônibus geralmente sempre estão lotados,
por isso se justifica a preocupação desses passageiros.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos
para Animais de Estimação (ABINPET) o Brasil possui cerca de 100 milhões de
pets: cães, gatos, peixes, aves e roedores. A cada três famílias brasileiras,
uma possui pelo menos um animal. O país é o segundo maior mercado de bichos de
estimação do mundo, ficando atrás dos Estados Unidos.
O segmento pet e veterinário brasileiro faturaram cerca
de R$ 15,2 bilhões em 2013, segundo a ABINPET. Em 2014, os lucros ultrapassaram
os R$ 16 bilhões. O cão ainda é o animal favorito dos brasileiros. Os gastos
são com rações, consultas, roupas, vacinas, produtos específicos como sorvetes
e refrigerantes próprios para cães, banho, tosa, brinquedos, acessórios, dentre
outros. Há também escolinhas, planos de saúde e hotéis próprios para cães e gatos.
O que se observa com esse cenário é a tendência que
muitos donos têm de humanizar os seus animais. O fenômeno conhecido como
“Antropomorfismo” é a humanização dos bichos, ou seja, a pessoa trata o animal como gente e em
muitos casos até como um filho.
Foto: ReproduçãoAnimais não devem ser tratados com ser humanos |
O dono do animal não mede esforços e dinheiro para dar
uma vida confortável ao melhor amigo. Em muitos casos, essas pessoas acreditam
que não necessitam da convivência com outros seres humanos, apenas da companhia
do bicho.
A lealdade, a falta de comunicação verbal que impede
desentendimentos, as brincadeiras e a dedicação dos cães para com seus donos,
incentivam as pessoas a acreditar que
isso é suficiente para suas vidas. Muitos especialistas criticam essa
“humanização” e alertam que os bichos não têm condições de substituir a relação
do ser humano com as outras pessoas.
Os cães, quando são tratados como gente, muitas vezes, se
tornam agressivos em companhia de outros cachorros por não compreenderem bem o
que realmente são: animais. Por isso, a pessoa que tem um animal deve tomar
bastante cuidado para não humanizá-lo, pois além de prejudicar a si mesma, pode
causar problemas psicológicos no próprio bicho.
O mundo em vivemos está bastante modificado. Hoje, muitos
preferem gastar muito dinheiro com os animais a ajudar o próprio ser humano.
Não existe problema em ter um bicho de estimação, o que se não deve esquecer é
a sua real condição de ser irracional.
As trocas de experiências e sentimentos que temos com
outras pessoas não podem ser substituídas pelo convívio com animais. Nunca o
ser humano se sentiu tão só, como nos dias atuais. Portanto, deve buscar
interações pessoais e não apenas virtuais ou com seus próprios pets. É hora de
sair do casulo e encarar o mundo real e não animalesco em que muitos têm se
inserido como desculpa para a falta de contato com o seu semelhante.