Fernanda Fernandes Borges
A cidade de Cláudio, localizada no
Centro-Oeste mineiro, foi a primeira da região a cancelar o carnaval 2015, em
janeiro, devido ao problema da escassez de água. Outros municípios como
Oliveira e Itapecerica também tomaram essa decisão. Outros motivos como falta
de verba e segurança também foram pretextos para os prefeitos dessas cidades e
de tantas outras em, Minas Gerais, para impedir a maior festa popular
brasileira.
Na sexta-feira de carnaval o bloco “Pelo Amor
de Deus” saiu às ruas em, Oliveira, para protestar contra a decisão do prefeito
pelo cancelamento do carnaval. As pessoas estavam vestidas de preto e com velas
acesas para simbolizar o “enterro” da festa. No entanto, a população não deixou
a tradição esquecida e mesmo em clima de manifesto, o bloco saiu.
Em Itapecerica, a população interessada no
carnaval recorreu ao Poder Judiciário e conseguiu o direito de sair com os
blocos na rua e o apoio da prefeitura para
aumentar a segurança. O carnaval aconteceu, mesmo sem grandes
investimentos.
O caso mais contraditório é o da cidade de
Cláudio. Houve um Pré - Carnaval, no Parque de Exposições, nos dias 30 e 31 de
janeiro, com atrações como os grupos Sambô e Molejo. Além desse evento ter sido
um fracasso, o dinheiro gasto com ele poderia ter sido investido no carnaval da
cidade, que já atraiu muitos turistas.
O mais decepcionante é ouvir que o poder
Executivo disse que o carnaval em Cláudio não tem muita adesão da população e
que o prefeito economizou dinheiro ao realizar o Pré-Carnaval com atrações
pagas ao invés de realizar o tradicional festejo nas ruas do centro da cidade.
Foto: Arquivo PessoalSaudades de quando o Carnaval ainda existia |
Não houve uma pesquisa por parte da
prefeitura para saber quem gosta ou não do carnaval. Além disso, essa festa
sempre foi comemorada na cidade. Como uma autoridade tem coragem de falar que
economizou dinheiro trazendo artistas para tocar em um Pré- Carnaval?
É lamentável a postura de quem representa
esse município. Não é por acaso que Claúdio tem o apelido da “Cidade Já teve”.
Já teve cinema, carnaval, cultura e respeito pela população. Hoje não tem mais.
O pior é a acomodação de quem habita o município e deixa suas tradições e
raízes se perderem, em meio a uma péssima administração.
Que bom foi acompanhar os blocos das cidades
de Oliveira e Itapecerica e a determinação de seus moradores na realização de
uma festa que dependia mais da alegria do seu povo do que da verba de suas
prefeituras.
A falta de água é um problema sério e todos
devem ser conscientes em relação ao seu uso. No entanto, não é a realização de
um carnaval que agravaria ainda mais a situação. E por que essas autoridades não
tomaram providências antes?
Este ano, as polêmicas da maior festa popular do Brasil atingiram até a escola de samba
carioca Beija – Flor de Nilópolis, coroada com o campeonato 2015. O enredo que falava da
Guiné Equatorial, país governado há 35 anos pelo ditador Teodoro Obiang Nguema,
dividiu opiniões. O patrocínio de cerca de R$ 10 milhões dados pelo ditador
também não foi bem aceito por grande parte da opinião pública.
Infelizmente, uma festa tão alegre quanto o
carnaval não precisaria sofrer boicotes tão perversos como nas cidades mineiras
que o cancelaram por uma atitude autoritária e não preventiva, como certas
autoridades alegaram em seus deploráveis discursos. Tomara que no futuro
próximo, o apelido “Cidade Já teve” que Cláudio carrega, sirva, apenas, para
designar os políticos pouco capacitados que por lá passam e deixam uma marca de
destruição ao invés de significar o esquecimento das suas tradições e de sua
história.