Fernanda Fernandes Borges
A aula do dia 14 de junho do curso de História da Arte
Contemporânea, promovido pela Fundação Clóvis Salgado, em Belo Horizonte,
enfocou a arte desenvolvida por alguns artistas brasileiros na década de 1980.
“Os artistas celebravam a vida e a vitória da democracia nos anos 80”, disse a
professora Isa Souza.
O fazer manual e o prazer de pintar temáticas coloridas e
passar a sensação de euforia são perceptíveis em vários trabalhos. A exposição “Como vai você, Geração 80?” realizada
na Escola de Artes Visuais do Parque Laje, em 1984, no
Rio de Janeiro, ilustra bem o momento
vivenciado.
Foto: ReproduçãoCartaz da exposição de 1984 |
Os artistas refletiam sobre as imagens; os suportes; técnicas; estilos;
materiais; gestos; formas; cores; figuras; dentre outros. Rejeitavam a ideia da
pintura como “obra” e utilizavam tintas ordinárias e temas cotidianos para
fazer a sua arte.
Alguns artistas merecem destaque:
Beatriz Milhazes ( Rio
de Janeiro, 1960) – Percebe-se o uso de cores fortes em suas criações para
comemorar o fim da ditadura militar;
Leda Catunda ( São
Paulo, 1961) – Utilização de elementos pouco nobres como retalhos, colchas e
tecidos. “Trabalho que beira o artesanal e utiliza uma técnica mais delicada.
Há uma desconstrução com objetos utilitários como camisas e retalhos”,
ressaltou a educadora Isa Souza;
Foto:ReproduçãoA Carteira ( 1985) obra de Leda Catunda |
Ângelo Venosa ( São Paulo, 1954) –
Utilização da precisão geométrica para criar esculturas gigantescas e expressionistas;
Adriana Varejão ( Rio de Janeiro , 1964)
– Pesquisa sobre a história e as ciências naturais. Utiliza elementos sofisticados para falar de coisas simples;
Ernesto Neto ( Rio de Janeiro, 1964) – Desconstrói a ideia e
escultura com materiais nobres. Há um trabalho sobre o peso, a leveza, a tensão
e o contato do produto apresentado;
Foto: ReproduçãoUso de redes na criação de Ernesto Neto |
Iran do Espírito Santo ( São Paulo, 1963) – Faz uma crítica à
sociedade de consumo e à inserção da arte nesse contexto;
Lygia Pape (Rio de Janeiro , 1927-2004) – Teve
grande inspiração no movimento Neoconcretista e no artista Hélio Oiticica;
Leonilson Dias (Ceará, 1961-1993) – Obra
predominantemente autobiográfica. Utilizava em seus produtos culturais costuras
e bordados;
Pecebe-se que a produção artística internacional após a
2ª Guerra Mundial, afasta a subjetividade
e a expressão do eu. No Brasil, nesse contexto, a arte é produzida através da
vivência artesanal na lógica pré – industrial.
A Vanguarda Brasileira discute a fundação do objeto ou
não – objeto. Há também a arte ambiental ou antiarte. Os objetos são perceptíveis, táteis, visuais e
proporcionam sensibilização. “Na Arte Sensorial no Brasil, o público auxilia
nas criações”, disse a professora Isa Souza.
Uma referência de Arte Contemporânea no Brasil é o Instituto Inhotim considerado o maior
centro de arte ao ar livre da América Latina, localizado na cidade de
Brumadinho, em Minas Gerais.
Foto: ReproduçãoA Arte Contemporânea ao ar livre no Instituto Inhotim |
Foi idealizado pelo empresário Bernardo de Melo Paz na
década de 1980 e em 2006 foi aberto ao público. Teve grande contribuição do
artista plástico pernambucano Tunga (1952-2016)
que faleceu recentemente.
Devido a sua obras,
Tunga foi o responsável por despertar no empresário Bernardo o desejo de investir na Arte Contemporânea e
criar o Instituto Inhotim.
Foto: ReproduçãoO artista Tunga teve grande participação na criação do Inhotim |
É muito gratificante ter o Instituto Inhotim que é referência de arte internacional e
nacional no estado de Minas Gerais. Visitar o acervo das obras deveria ser uma
atividade propiciada por todas as escolas aos seus alunos.
Compreender a importância de celebrar o fim da ditadura
militar no Brasil por meio de um fazer artístico colorido e artesanal ilustra
bem a necessidade da liberdade no universo artístico para promover
questionamentos e novas ideologias políticas e sociais rumo a um
desenvolvimento desejável.
A arte é responsável por modificar a estrutura de uma
sociedade e pode transformar através de suas indagações a rigidez de um sistema
que oprime e não propicia liberdade de expressão e senso crítico, essenciais à
formação do ser humano.
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