Fernanda Fernandes Borges
A tarde do último sábado, dia 11, no teatro Isabela
Hendrix, foi palco de uma discussão sobre os dispositivos que regulamentam os meios de comunicação, em alguns
países latino-americanos. O 2° Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação
trouxe como convidados para o debate o professor Gustavo Gómez do Uruguai, o professor Guilhermo Mastrini da Argentina e Renata Mielli - representante do Fórum Nacional pela Democratização
da Comunicação (FNDC).
Foto: Fernanda Fernandes BorgesGuilhermo Mastrini falou sobre a experiência argentina com a nova lei |
As discussões se iniciaram com a fala de Guilhermo
Mastrini que contou que a Argentina teve uma grande luta para estabelecer uma
lei que regulamentasse a mídia. Houve enfrentamento entre o governo e o grupo
Clarín que domina todo o processo midiático argentino.
Pelo texto da lei,
o Clarín teria que desfazer de várias de suas licenças, por isso o embate ainda
acontece nos dias atuais e o grupo midiático pede na Justiça tempo para se
adequar às novas regras.
Com a nova lei “Ley
de Medios” ( Lei de Meios ),
aprovada em outubro de 2009, pela presidente Cristina Kirchener, novas regras
para concessões de rádio e tv foram definidas para limitar a formação de
oligopólios e incentivar a pluralidade de vozes nos meios de comunicação.
Segundo Guilhermo nenhum operador pode ter mais que 35%
do mercado. “A lei deve ser um ponto de
partida, é um cimento em uma casa. A partir dela é possível construir”,
disse.
No debate, o Uruguai foi representado pelo professor
Gustavo Gómez, um dos formuladores da Lei
de Serviços de Telecomunicações, do Uruguai, aprovada no final de 2014,
pelo presidente José “Pepe” Mujica. A nova lei tenta combater a concentração
econômica no setor das comunicações e incentivar a produção de conteúdo
nacional.
Foto: Fernanda Fernandes BorgesGustavo Gómez colaborou com a formulação da nova lei de Telecomunicações no Uruguai |
Para o professor uruguaio, quanto mais cedo a criação de
uma lei, melhor para o país. Ele lembrou que o processo deve ser participativo
e transparente. “Não se deve colocar uma
lei já pronta. O documento deve ter
conceitos vastos. Tem que definir muito bem o que se vai regular e o que não
será regulado. Não deve ser uma lei “mordaça”,
ressaltou.
Para falar da atual conjuntura brasileira na busca por um
dispositivo que regulamente a mídia Renata Miellei – Secretária Geral do FNDC, enfatizou que o país tem um projeto
de lei de mídia democrática, proposto juntamente com a sociedade civil.
“A
América Latina tem similaridades políticas, sociais, econômicas e um passado
governado por ditaduras que promoveram torturas. Além disso, foi um laboratório
do Neoliberalismo. O modelo de uma integração soberana, busca uma maior justiça social”,
enfatizou Renata.
Foto: Fernanda Fernandes Borges Renata Mielli discursou sobre os desafios a ser enfrentados pelo Brasil |
A representante do FNDC afirmou que o Brasil é “uma vanguarda do atraso da comunicação”. Reafirmou que o país precisa vedar os
monopólios e oligopólios de comunicação, dispositivos que já existem na Constituição
e não são cumpridos.
Renata enfatizou a importância de movimentos como o 2° ENDC para promover esse debate sobre
a comunicação e a necessidade de uma nova lei que estabeleça um diálogo entre
empresários, o movimento social e o governo.
Todos esses debates foram proveitosos para se pensar
como regular os meios de comunicação no Brasil. A partir dos exemplos da
Argentina e do Uruguai é possível ter noção de como esse processo pode ser
implantando no país, sempre contando com a participação e engajamento de todos
os cidadãos.
É preciso cair a “máscara”
de que regular é censurar. É necessário distribuir melhor as concessões para se
fazer uma comunicação mais competitiva e acessível a todos. Quem sabe assim, os grandes grupos
midiáticos brasileiros parem de tentar manipular os seus receptores?
Foto: Fernanda Fernandes BorgesPúblico acompanhou com atenção o debate |
A liberdade de expressão poderá ser realmente utilizada,
quando a mídia for menos concentrada nas mãos de poucas famílias brasileiras.
Outras camadas sociais terão a chance de diversificar as produções e todo esse
processo enriquecerá o conteúdo produzido por nossos veículos de comunicação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário