Fernanda Fernandes Borges

Fernanda Fernandes Borges

segunda-feira, 20 de abril de 2015

O Projeto de Lei de Mídia Democrática suscita discussão


            Fernanda Fernandes Borges


No dia 12 de abril, o 2° Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação discutiu em seu último debate a necessidade da criação de uma lei por uma comunicação mais democrática. O projeto de lei já existe e foi criado, juntamente com a participação da sociedade.

Deve haver uma diversidade de lutas para se exigir um marco regulatório das comunicações. Não se trata apenas de coletar assinaturas, mas sim da realização de debates. Quem estava presente no encontro foi orientado a divulgar o máximo possível, esses propósitos de uma comunicação mais democrática, pois sem isso é quase impossível ter uma democracia concretizada em nosso país.
 
                                                                                                                       Foto: Reprodução

Participantes foram conscientizados sobre a necessidade de luta por uma comunicação plural

 

A nova Lei proposta será aplicada apenas no meios de comunicação eletrônica: canais abertos de TV, rádio e TV por assinatura. Entre os objetivos da Lei da Mídia Democrática, destacam-se:

- Ampliar a liberdade de expressão  e opinião;

-Promover a cultura nacional;

- Incentivar a diversidade regional e combater o preconceito;

- Garantir os direitos do espectador;

- Haver um equilíbrio entre a existência de canais privados, públicos e estatais;

- Proteger as crianças e adolescentes;

- Destinar 33% das concessões de rádio e TV ao sistema público, sendo metade dessas para canais comunitários;

- Utilizar 25% do Imposto de Renda para financiar o Sistema Público de Comunicação;

- Proibir o arrendamento de horários e transferências de concessões;

- Ninguém poderá ter mais que 5 canais de TV;

- Não poderá haver censura prévia;

- O Conselho Nacional de Política de Comunicação vai fiscalizar e garantir mais vozes nos meios de comunicação de massa;
 
                                                                                               Foto: Fernanda Fernandes Borges

Projeto de Lei propõe uma mídia mais democrática

 

Esse projeto de Lei de Iniciativa Popular da Mídia Democrática também conhecido como (PLIP) tem 33 artigos e delineia um novo cenário para a comunicação no país. Após a exposição desse projeto, houve a apresentação da Carta de Belo Horizonte. Acompanhe abaixo a íntegra do documento:

 

CARTA DE BELO HORIZONTE

REGULA JÁ! POR MAIS DEMOCRACIA E MAIS DIREITOS

 

Nós, ativistas pelo direito à comunicação, militantes das mais variadas organizações do movimento social brasileiro (sindical, juventude, cultural, estudantil, moradia, do campo e da cidade, mulheres, negros, LGBT, meio ambiente, academia, ativistas digitais, trabalhadores da comunicação etc.), presentes em Belo Horizonte no 2º Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação, organizado pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, que reuniu quase 700 pessoas vindas das cinco regiões do país, demos mais uma demonstração de força e unidade do nosso movimento. Durante três dias debatemos propostas e projetos, trocamos experiências e construímos coletivamente uma estratégia comum de luta pela democratização da comunicação.

A defesa da democracia é uma das principais bandeiras de luta da sociedade brasileira. E a construção de uma sociedade efetivamente democrática só se realiza se houver liberdade de expressão para todos e todas, o que pressupõe a garantia do direito à comunicação. Reafirmamos, nesse sentido, que o Brasil precisa enfrentar o desafio de atualizar os instrumentos de regulação democrática dos meios de comunicação. Nos mantemos mobilizados, nas ruas e redes, para exigir que o governo cumpra o seu compromisso de abrir publicamente esse debate com a sociedade.

Em um momento em que o povo brasileiro e suas instituições democráticas enfrentam uma conjuntura política e econômica adversa, mais do que nunca, levantamos a bandeira: Regula Já! Por mais diversidade e pluralidade de vozes na mídia. 

A direita brasileira derrotada nas eleições presidenciais sai às ruas defendendo a quebra da legalidade democrática. Nesse cenário, a mídia privada manipula a informação, distorce os fatos, fabrica crises, invisibiliza temas e criminaliza movimentos e atores sociais progressistas. O principal porta-voz desse discurso – a Rede Globo de Televisão – completa 50 anos em abril dando provas da sua falta de compromisso com o interesse público e com a democracia.

O Congresso Nacional, o mais conservador desde a ditadura militar, tem mostrado que a agenda da direita (redução de direitos trabalhistas, sociais, ataque aos direitos humanos) dará a tônica da atividade legislativa. O próprio presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, afirmou que qualquer projeto de regulação dos meios de comunicação só será encaminhado para votação por cima do seu cadáver. Nesta mesma linha, o Poder Judiciário continua agindo de forma seletiva e parcial, refratário à agenda da democratização da comunicação, blindado pela caixa preta de sua estrutura institucional inquestionável.

A Presidenta Dilma Rousseff – que só foi eleita porque assumiu o compromisso de adotar políticas que aprofundassem direitos sociais e democráticos, com uma plataforma de reformas estruturais – dá sinais contraditórios de que essa agenda será aplicada.

Neste cenário, é preciso buscar uma ampla unidade dos movimentos sociais para barrar a direita e pressionar o governo, exigindo o cumprimento dos compromissos firmados. Lutas de cunho democrático, como a Reforma Política com o fim do financiamento empresarial das campanhas; a taxação de grandes fortunas; a defesa da Petrobrás; o combate às terceirizações; contra a redução da maioridade penal; em defesa dos direitos dos indígenas; do meio ambiente; contra o extermínio da juventude negra; pela reforma agrária e urbana; pelos 10% do PIB para a educação e a defesa do SUS, precisam ser abraçadas pelo conjunto dos movimentos populares, entre eles o da comunicação. Nossa luta é por Mais Democracia e Mais Direitos!

No campo da comunicação, os desafios são ainda maiores, já que nos últimos 12 anos o governo não enfrentou essa pauta de forma estruturante. As importantes conquistas que foram a criação da EBC, a aprovação das leis de Acesso à Informação, regulação da TV por Assinatura (SeAc) e o Marco Civil da Internet, só foram possíveis em função da intensa mobilização social. No restante, o sistema permanece praticamente inalterado, caracterizado por uma forte concentração econômica e ausência de diversidade e pluralidade. O Capítulo V da Constituição Federal de 1988, da Comunicação Social, segue sem a regulamentação que garanta a sua aplicação. E a principal legislação da radiodifusão, o Código Brasileiro de Telecomunicações, já tem mais de 50 anos.

O novo ingrediente desse cenário é que a Presidenta Dilma Rousseff e o ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, têm dado declarações públicas de que a pauta da regulação dos meios de comunicação será tratada neste mandato. É imperativo cobrar que esse discurso seja transformado em prática. De outro lado, o setor empresarial segue na sua cruzada para impedir que esse debate aconteça. Continua usando a mesma e velha tática de distorcer essa discussão, tachando qualquer tipo de regulação como censura.

Por isso, é indispensável ampliar a mobilização e pressão da sociedade para destravar esta agenda. Desde a 1ª Conferência Nacional de Comunicação, temos ampliado a base social e consolidado propostas para um novo marco regulatório das comunicações. A principal delas é o Projeto de Lei de Iniciativa Popular da Mídia Democrática, que em 33 artigos delineia um novo cenário para a comunicação no país. Inspirada nos tratados internacionais já ratificados pelo Brasil e em experiências regulatórias de países como França, Inglaterra, Estados Unidos, Portugal, Espanha e outros, a Lei da Mídia Democrática propõe mecanismos de implementação dos dispositivos constitucionais. Durante o 2º ENDC, reafirmamos essas propostas e a importância da estratégia de luta em torno da Lei da Mídia Democrática com a presença de convidados internacionais vindos do Canadá, Argentina e Uruguai.

O trabalho de coleta de assinaturas para a Lei da Mídia Democrática e a divulgação de seu conteúdo para setores mais amplos da sociedade devem ser intensificados. Mas, além disso, precisamos avançar também em outras frentes, como o fortalecimento do sistema público de comunicação; o fim da criminalização das rádios comunitárias e da mídia popular e alternativa (do campo e da cidade), com a criação de mecanismos para incentivar e fomentar a sua valorização; a universalização da Banda Larga; a garantia do respeito ao Marco Civil da Internet; a implantação dos Canais da Cidadania; a criação dos Conselhos de Comunicação nas três esferas da Federação; a defesa da Classificação Indicativa; o respeito aos direitos humanos nos meios de comunicação; a defesa do direito de resposta; o fim das concessões para os políticos; o combate ao arrendamento e transferência ilegal das outorgas; a democratização da distribuição das verbas publicitárias; mecanismos de incentivo à produção regional e independente (retomada da campanha Quero Me Ver na TV); o fortalecimento de políticas para a promoção da diversidade cultural e informativa (pontos de cultura e pontos de mídia livre) e de educação para a mídia; a defesa do software livre. Enfim, um conjunto de medidas urgentes que desde já podem ampliar o Direito à Comunicação e a verdadeira Liberdade de Expressão para todos e todas em nosso país. Todas as vozes, todas as cores, todas as ideias!

O Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) e demais entidades que participaram do 2º Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação convocam todos e todas comprometidos com essas bandeiras a se juntarem a nós nessa luta.

Não haverá uma verdadeira democracia em nosso país sem uma comunicação democrática.

Regula Já!

 

Belo Horizonte, 12 de abril de 2015

                                                                                                     Foto: Fernanda Fernandes Borges

Carta Belo Horizonte foi apresentada ao público

 

O documento pede mais democracia e mais direitos, já que o sistema atual tem forte concentração econômica e ausência de diversidade e pluralidade. O setor empresarial sempre que se sente ameaçado com a regulamentação dos meios de comunicação, usam a  desculpa da “censura”.

O 2° Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação discutiu temas importantes sob a perspectiva da comunicação como um direito humano. Estabeleceu redes e fortaleceu movimentos em prol da comunicação, objetivando potencializar o espectro de ação dos diversos atores e a capacidade de intervenção na elaboração de políticas públicas.
 
 
                                                                                                   Foto: Fernanda Fernandes Borges

A pluralidade na comunicação foi enfocada

 

Alguns participantes ali presentes opinaram sobre a criação da Carta Belo Horizonte e muitos a consideraram um documento amplo que priorizava a diversidade na comunicação.

A principal lição desse grande encontro que reuniu pessoas de todo o país é a necessidade de se lutar para impedir que o controle dos meios de comunicação continuem nas mãos de apenas 5 famílias brasileiras.
 
                                                                                                Foto: Fernanda Fernandes Borges

Público opinou sobre a Carta Belo Horizonte

 

Uma comunicação  plural e uma programação de qualidade é o que se deseja em um país repleto de diferenças raciais, sociais e culturais. O que é diverso pode ser útil no crescimento de uma nação, pois a hegemonia impede a exploração de novos horizontes.

A comunicação existe para ser ampliada e não restringida. Por isso, os grandes conglomerados usam a palavra “censura”, quando se fala em regulação, pois têm medo de perder os seus enormes lucros. Em um processo democrático há uma maior divisão nas concessões de rádio e TV.

É direito do cidadão ter acesso á comunicação diversificada e isenta de objetivos implícitos que visam tirar seu senso crítico e manipular seus pensamentos. Por isso, a luta deve ser constante e a conscientização da população um dever de quem deseja promover um novo cenário midiático no Brasil.

 

 

 

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